Estivemos no Centro de Investigação e Desenvolvimento, no Porto, e percebemos como é tratado um problema transversal a homens e mulheres de diferentes idades. Os números são surpreendentes.

Pouco mais de um ano após a inauguração do Centro de Investigação e Desenvolvimento(I&D) a par com uma nova unidade clínica no Porto, o grupo Insparya é já uma inquestionável referência mundial na área dos transplantes capilares. Só este ano inaugurou uma nova clínica com mais de 4000 metros quadrados em Marbella, bem como uma outra em Braga, Portugal. Ao leme, na qualidade de Chief Clinical Officer, o médico Carlos Portinha fala de calvície e alopécia como um problema transversal a homens e mulheres de diferentes idades.

Qual é a realidade da calvície por cá? Em termos gerais, a calvície afeta muito mais os homens do que as mulheres. Aos 30 anos, cerca de 30% dos homens sofrem de algum tipo de calvície e isto não quer dizer que sejam completamente carecas. Acima dos 70 anos, mais de 80% dos homens têm algum tipo de calvície e perda de cabelo.

Nas mulheres o fenómeno é igual? É um bocadinho diferente. Aos 30 anos, estamos a falar em cerca de 5% e, aos 50, estamos a falar em cerca de 20/30%; aos 70 anos, os números vão para os 40%. Estudos revelam que a alopécia androgenética poderá começar na puberdade. Que cuidados as pessoas deverão ter nesta idade tão prematura? Tem essa designação porque tem uma componente genética muito importante que, no início, se pensava que era só herdada do pai. Depois, pensava-se que era só herdada da mãe. Conclui-se que há uma série de genes, cromossomas X, Y, 11, 9, ou seja, é plurigenética, o que prova que é uma doença de origem genética, independentemente do género de que advém.

Há uma componente hormonal diretamente relacionada com a doença? É realmente muito influenciada por essa componente hormonal, ou seja, pela testosterona e pela dihidrotestosterona. Por esse fator, e com a chegada da puberdade e o natural incremento hormonal que se verifica, quer no homem, quer na mulher, efetivamente pode começar aí a influência “andros” da componente androgenética.

Têm pacientes em idade adolescente a procurar informação sobre o assunto? O paciente mais novo tinha 16 anos e já tinha calvície marcada. Foi feito um transplante, mas estes casos não são frequentes. O habitual é uma perda de cabelo progressiva e só se apercebem na fase adulta.

Há alguma razão para que muitos só se apercebam da doença numa fase mais avançada? O ser humano só se apercebe de uma diminuição franca da densidade capilar quando já perdeu mais de 30/40% dos cabelos do couro cabeludo.

Estamos a falar de que idades? Depende muito, mas em média andará pelos 25/35 anos. É aí o auge da alopécia. É nestas idades que se veem as ditas entradas mais marcadas, uma coroa a aparecer…

Ver o cabelo caído na banheira depois do banho é sinal que algo não está bem? Ao contrário do que as pessoas dizem, na alopécia androgenética não há tanto essa questão dos cabelos na banheira, porque isso pode ter a ver com muitas situações laterais a esta doença, havendo uma miniaturização progressiva do mesmo, ou seja, o cabelo vai-se tornando cada vez mais pequeno, mais fino, mais claro.

O aumento de casos tem relação com a COVID-19? Com a COVID-19 verificou-se um aumento da alopécia – repentina perda de cabelo do couro cabeludo ou de qualquer outra região do corpo. Na realidade, houve um agravamento em pacientes que já padeciam do problema, ou pacientes que não sofriam de qualquer tipo de alopécia e subitamente começaram a aperceber-se de queda de cabelo. Inicialmente, havia dúvidas se esta queda era só uma influência psicológica, porque a queda de cabelo tem muito de psicológico. Alopécia, depressão e ansiedade andam intimamente associadas. A alopécia causa ansiedade e eventualmente depressão. Estes dois estados podem causar queda de cabelo e alguns tratamentos para a depressão também podem causar esta queda.

Há então essa relação da COVID-19com a queda de cabelo? Vários estudos multicêntricos, nomeadamente a nível europeu e um estudo muito importante feito nos Estados Unidos, comprovaram a relação direta entre a alopécia e o vírus SARS-CoV-2. O coronavírus afeta algumas componentes genéticas e celulares e atinge efetivamente componentes que estão associadas à produção do cabelo. Está comprovado que não só a componente ansiedade, mas também a influência direta do vírus ao nível do couro cabeludo, por processos inflamatórios locais, vasculares e da própria unidade folicular, podem agravar a queda em pacientes suscetíveis.

A autoestima, ansiedade e depressão são fatores decorrentes de todo o processo da queda de cabelo. A vertente psicológica é tida em conta? São fatores e estados que são devidamente acautelados por nós. Estes estados veem-se mais nas mulheres devido apenas a uma maior pressão social. Se um homem perde cabelo, até é confundido com sinal de masculinidade. Há uma série de construções sociais que foram criadas aolongo dos anos que permite aos homens algumas coisas que não são permitidas às mulheres, mas que felizmente estão a mudar. Em relação a uma mulher que perde cabelo, além da componente solitária em frente ao espelho, existe uma pressão social brutal. Nos homens verifica-se um sofrimento maior quando são mais jovens. Não me esqueço do jovem de 16 anos que devido à queda de cabelo já não saía de casa. Encontrámos a solução com o transplante capilar e a vida dele mudou. Como combatem o estigma da sociedade em relação à queda de cabelo nas mulheres? É o que nós fazemos todos os dias. A comunicação é muito importante. Tentamos sempre desmistificar alguns preconceitos. Os mais de 40 mil pacientes que temos são, de alguma forma, também a nossa cara perante todas as pessoas e isso acaba por desmistificar muita coisa.

Os corticoides são uma forma de tratar a queda de cabelo? O tratamento da alopécia androgenética não passa por corticoides. Há algumas alopécias, como a “alopécia areata” ou a “fibrosante frontal”, que podem passar por corticoides tópicos ou sistémicos. Além dos tratamentos convencionais, na clínica também desenvolvemos tratamentos de elevadíssima eficácia, alguns com eficácia acima dos 50% (algo fantástico nesta área da medicina).

Que tratamentos são esses? Temos a nossa mesoterapia InsparyaMesoHair, que é um cocktail de vitaminas, proteínas, fatores de crescimento, fatores antioxidantes, fatores de tipo antiandrogénico e ácido hialurónico, que é aplicada em 12 sessões e tem efeito durante um determinado tempo. Deve ser renovado no mínimo 12 meses depois. Esta solução tem realmente resultados muito bons, coma manutenção do cabelo muito mais saudável e com menos propensão para queda. Há também o PRP (Plasma Rico em Plaqueta), em que seretira um pouco de sangue do próprio paciente, que é centrifugado, sendo utilizados os fatores de crescimento derivados das plaquetas com a vantagem que eles têm a vários níveis, nomeadamente no estímulo à produção de cabelo de qualidade pela unidade folicular (órgão produtor de cabelo). Temos ainda uma tecnologia desenvolvida no nosso Departamento de Engenharia em colaboração com uma empresa tecnológica de São Francisco, nos Estados Unidos, que é um capacete de luz laser de baixa intensidade, que estimula as células estaminais das unidades foliculares, bem como a vascularização. E possuímos uma linha de champôs própria, com fórmulas que ajudam a prevenir a queda e a nutrir o couro cabeludo.

Estamos então a falar de uma doença para a vida? É verdade que, diagnosticada corretamente, éuma doença para a vida e que requer tratamentos que devem ser mantidos sempre. Se isso não acontecer, o que se ganha pode perder-se num instante. É uma doença de características hormonais e crónica, daí definirmos o tratamento como crónico. Qualquer tratamento que se faça que não seja o transplante tem de ser mantido, pelo menos, enquanto houver cabelo e propensão para a sua queda.

O transplante surgiu como uma luz ao fundo do túnel? Completamente! É o único tratamento efetivo que vai aumentar o número de cabelos numa área onde já houve perda. O transplante nada faz para parar a continuidade da queda, mas vai acrescentar novo cabelo.

Qual a vantagem desse procedimento? O cabelo transplantado não cai. Poderá cair sazonalmente, mas não cai de forma definitiva. É muito importante para o paciente perceber que, quando faz um transplante, não tem de fazer manutenções do transplante. Pode ter necessidade de fazer mais do que um transplante, mas o cabelo ganho em cada transplante mantém-se para a vida.

FONTE: Revista Nova Gente Novembro 2021 (Texto, SÉRGIO QUEIRÓS)